Condições legais para o recebimento de e-mails no direito civil
A transmissão juridicamente segura de declarações por e-mail é frequentemente um tema controverso nas relações comerciais. Em especial, surge regularmente a questão de em que condições se pode considerar que um e-mail simples foi recebido pelo destinatário e se, neste contexto, é possível recorrer à chamada prova prima facie. O Tribunal Superior Regional (OLG) de Rostock esclareceu princípios centrais sobre a produção de prova do recebimento de e-mails em sentença de 04.06.2024 (Proc. 7 U 22/24, Fonte: urteile.news), contribuindo assim para uma maior definição da jurisprudência atual.
Recebimento de declarações no comércio eletrônico
Princípio: o recebimento pressupõe o conhecimento
No direito civil, o recebimento de uma declaração de vontade é relevante porque, em regra, é este o momento determinante para a eficácia da declaração (§ 130, n.º 1 do BGB). Para que haja o recebimento, é necessário que a declaração chegue à esfera de domínio do destinatário de tal forma que, em circunstâncias normais, se possa esperar que tome conhecimento do seu conteúdo. Enquanto, em meios tradicionais como carta ou fax, o recebimento pode geralmente ser comprovado facilmente através de confirmações de recebimento ou de relatórios de envio, no caso dos e-mails existem consideráveis incertezas.
Via eletrônica de comunicação: distinção em relação a outros métodos de transmissão
Ao contrário de uma comunicação eletrônica qualificada, como por meio do envio via De-Mail ou pela caixa postal eletrônica especial de advogados (beA), no caso de um e-mail simples normalmente falta uma prova fiável de que a mensagem chegou efetivamente ao destinatário e foi armazenada pronta para recebimento. Provas de e-mail como confirmações de envio, cópias na pasta de enviados ou confirmações de leitura podem ser facilmente manipuladas e, portanto, não oferecem garantia suficiente sobre o efetivo recebimento.
Jurisprudência do OLG Rostock: exigências para a comprovação do recebimento
Sentença de 04.06.2024 – principais fundamentos da decisão
O OLG Rostock esclareceu que, no caso de um e-mail simples, não se pode presumir a existência de prova prima facie quanto ao recebimento, nem considerar que apenas o envio basta para tal. Nem o envio de um e-mail, nem o fato de aparecer na caixa de saída, justificam a presunção de que o destinatário recebeu a mensagem ou que ela chegou à sua esfera de recebimento. Segundo o tribunal, cabe ao remetente comprovar o recebimento por meio de fatos concretos em caso de litígio. Para isso, podem ser utilizados, por exemplo, protocolos detalhados sobre a receção eletrónica bem-sucedida, arquivos de log do servidor de e-mails do destinatário ou confirmações de entrega de terceiros – práticas cada vez mais recorrentes no contexto industrial ou institucional.
O OLG destaca ainda: uma vez que os e-mails estão sujeitos a diversos riscos técnicos (falhas de servidor, filtros de spam, caixas de correio cheias, etc.) no seu percurso do remetente ao destinatário, não existe regularidade suficientemente elevada de recebimento como acontece, por exemplo, nas cartas tradicionais. Por isso, falta a tipicidade necessária para a prova prima facie.
Aspetos de risco no comércio eletrónico
Prática empresarial e riscos técnicos
Para empresas, investidores e pessoas físicas com patrimônio que atuam no comércio eletrônico, esta decisão provoca importantes incertezas quanto ao cumprimento de prazos, produção de provas e gestão de riscos. Em especial, a ausência de facilitação na produção de prova no tráfego de e-mails torna necessário considerar meios alternativos de envio ou recibos de entrega adicionais para poder comprovar o recebimento em eventuais disputas.
Perspectivas: necessidade de adaptação e desenvolvimentos
A decisão do OLG Rostock insere-se numa tendência jurisprudencial que impõe requisitos rigorosos quanto à comprovação do recebimento de declarações eletrónicas. As empresas devem estar cientes dos riscos técnicos e jurídicos associados ao envio de e-mails simples. A utilização de vias eletrônicas seguras ganha, neste contexto, importância crescente.
Conclusão e informações adicionais
A conclusão do OLG Rostock, de que não há presunção legal de recebimento para um e-mail simples, evidencia a necessidade de uma organização cuidadosa dos processos de entrega no comércio digital. A decisão enfatiza a importância de provas técnicas e jurídicas precisas para garantir a validade das declarações e dos prazos.
Na prática, empresas, investidores e pessoas privadas frequentemente enfrentam outras questões sobre os requisitos de recebimento, sobre o uso de diferentes meios de transmissão ou sobre a estruturação da comunicação digital. Os advogados da MTR Legal acompanham atentamente a evolução da jurisprudência e estão à disposição para uma avaliação conforme o direito das situações individuais.